Existimos e incansavelmente estamos a resgatar o já vivido como comprovação de nossa existência.
Por vezes, como persistência, em alguns casos sonhos, lutas, resistências. É fato que, na tortuosidade do viver, fomos e continuamos a acreditar no dizer do poeta Manoel de Barros: “a reta é uma curva que não sonha”.

É nesse sempre insurgente acreditar nas curvas do querer, mais um dos sonhos, sonhados por muitos, enfim se concretiza através da iniciativa da atriz, artista plástica e ser do viver Didi Praes (vulgo, para os mais íntimos, Expedita Vieira de Sá). Entre gritos, aconchegos e mãos nos quartos, fez-se o projeto Teatro Ferreira Gullar: histórias, memórias, registros e lembranças do movimento cultural artístico imperatrizense. Sabe-se de ter um dedo da nossa queridíssima e saudosa Nice Rejane, partes de um corpo a representar algo muito maior: uma constelação de corpos e mentes que construíram esta história vivida e tão necessária, urgente de ser contada.

É sabido que existem sonhos/empreitadas que, deveras, não tem fim, mas que eles precisam ser iniciados. E eis o início de uma grande novela a ser contada; quem sabe, o pontapé inicial de uma partida que não se restringe tão somente aos jogadores no campo, porque nesse grande estádio/espetáculo muito jogaram, e se jogaram. Fizeram com lágrimas e sorrisos escancarados chutes impagáveis, gols primorosos, frangos inesquecíveis… e todos foram e são e continuarão a ser arquibancadas, juízes, bandeirinhas, gandulas, porque a bola, por mais que não quisessem, foi, é e sempre será nossa.

De alguns resta o aperto no peito, de uma saudade sem tamanho, outros corajosamente persistem na labuta e outros tantos vão se achegando, e todos são bem vindos para voluntariamente, como membro da grande ala do Ferreirinha, de uma Voluntários do Samba, a gritar vivas pelas batalhas vencidas, a cerrar punhos e ecoar gritos rejuvenescidos para novos sonhos serem conquistados…

E no eterno canto o poeta Chico Buarque de Hollanda, mesmo sem saber, disse e diz parte de parte do que fomos, somos e seremos, portanto, abram alas que…

“Vai passar / Nessa avenida um samba/ Popular/ Cada paralelepípedo / Da velha cidade / Essa noite vai / Se arrepiar / Ao lembrar / Que aqui / passaram / Sambas imortais / Que aqui sangraram pelos / Nossos pés / Que aqui sambaram / Nossos ancestrais”…

e, como no fechar e abrir de uma grande cortina, no grande espetáculo da vida que se apresenta, memórias, histórias e lorotas serão contadas; fotos, riscos e rabiscos poderão ser acessados; registros, imagens, espetáculos, shows, danças serão, nostalgicamente, vistos, ouvidos e… lembrados. Eis parte de uma parte dessa grande história/estória a ser contada…

e, desde já, gradecemos a todos os olhos, ouvidos, almas e mentes que por um querer, talvez acaso dos acasos, ou quem sabe por um desejo que não se sabe de onde, entrou nesse recinto/site/palco… e nós, artistas imperatrizenses, penhoradamente agradecemos.

Gilberto Freire de Santana
23 de novembro de 2021